Recentemente me dediquei com mais afinco a pesquisar sobre Inteligência Artificial (IA) no jornalismo, e confesso, fiquei impressionada com as possibilidades. Eu pessoalmente ainda experimento o básico, como elaboração de textos simples , este aqui é autoria própria (sic), pois é mais uma reflexão do que um texto informativo.

Mas no caminho da pesquisa identifiquei que textos informativos básicos, e outros conteúdos verdadeiros ou falsos, são facilmente produzidos no Chat GPT, no Copilot da Microsoft, ou no Bard do Google, por exemplo.

E nessas andanças de leituras cheguei ao guia “O mínimo que um jornalista precisa saber sobre inteligência artificial para começar 2024”, elaborado pelo Farol Jornalismo, que aliás é muito bom, pois traz, além de conteúdos relevantes, exemplos práticos, dicas de ferramentas e outros caminhos para a profundar o tema. Portanto, confere lá se quiser aprofundar este tema.

O que mais me chamou atenção nesse nesse guia, entretanto, foi uma indicação para uma reportagem multimídia do Financial Times com a explicação sobre o que é, e como trabalha a tecnologia LLM da IA generativa. No meu entender ficou fácil de ver que a IA utiliza a linguagem, uma ferramenta exclusiva dos humanos para comunicação, para produzir, traduzir, prever e gerar conteúdos por meio de algoritmos.

O exemplo mais famoso de LLM é o ChatGPT, ferramenta que esteve entre as principais tendências no jornalismo no ano passado, e continua em evidência de acordo com o relatório do Instituto Reuters.

Vou replicar aqui de forma bem resumida algumas das boas práticas de uso das ferramentas de IA generativa e depois destaco os problemas relacionados, pois “com grandes poderes vem grandes responsabilidades…” Como diria o Tio Ben (do Homem Aranha).

Criação: transcriçãos de falas em textos, detecção de tendencias de notícias, extração de textos a partir de imagens e vídeos e até mesmo reconhecimento óptio de caracteres

Produção: checagem de fatos e de fontes, produção de gráficos e imagens, resumos, elaboração de guias, etiquetagem de conteúdos, gestão de atividade, etc..

Distribuição: personalização e customização de conteúdos para diferentes canais, conversão de conteúdo digital para outros formatos, etc.

Alguns problemas

Foto por Judit Peter em Pexels.com

Lá, no inicio do texto falei sobre fazer uma reflexão, porque é isso mesmo que temos que fazer no momento. Nem demonizar, nem divinizar uma nova tecnologia, mas pensar em sua utilidade e os propósitos de seus usos.

Sim, as IAs são ferramentas úteis, de produtividade e precisão, mas têm muitos problemas relacionados ao campo produtivo do jornalismo. A questão da confiança é um deles. ChatGPT e seus derivados, por exemplo, não foram feitos com o foco no trabalho jornalístico que por princípio deve trabalhar com fatos verificados.

Quem já usou um dos programas já deve ter percebido que diante de uma pergunta mais elaborada, as máquinas entram em pane, ignoram informações importantes e cometem erros graves. Isto porque, é minha opinião, lhes falta o que ainda é dos humanos, a integração da razão com a emoção para se chegar a um resultado no pensar. Além disso sua programação, seus comandos, são feitos para copiar e reconfigurar conteúdos, ao menos por enquanto.

Mas os piores problemas, a meu ver, são: violação de direitos autorais (principalmente o ChatGPT que não referencia a sua busca), a imposição cultural dos dados (a maior parte dos conteúdos reutilizados pela IA é em inglês e de autoria de pessoas e organizações do “Norte Global“).

Além disso, há o problema da falta de diversidade pois são programas que refletem o pensamento de seus programadores e podem vir carregados de preconceitos e estereótipos.

Outra questão é que, embora a principal função da IA nas redações seja para apoiar os jornalistas para diminuir a sobrecarga de trabalho, existem casos em que as organizações estão demitindo (muitos) profissionais com objetivo de substituí-los pela tecnologia. Bem, nada de surpresa nesta questão afinal, mas como em outras áreas devemos sim problematizar o processo e não apenas absorvê-lo, sobretudo porque o jornalismo e as mídias são um campo de representações sociais.

A plataformização do jornalismo 

Um dos principais desafios apontados no Guia do Farol Jornalismo, e por pesquisadores, é a perda de autonomia do jornalismo sobre seus próprios produtos. Trata-se da dependência das empresas de jornalismo, que já acontece há algum tempo, em relação as grandes empresas de tecnologias como as mídias sociais, Google e outras, para a distribuição de conteúdos.

Ou seja, com as tecnologias digitais e o surgimento de novos meios de comunicação o jornalismo foi perdendo a exclusividade da distribuição de informações e notícias, assim como os jornalistas deixaram de ser os únicos a produzirem conteúdos. O problema é que nesse ecossistema informativo entram pessoas e organizações que não tem responsabilidade institucional e propagam todo tipo de dados.

Esperemos que o tempo (muito curto, por sinal) seja bom para a relação IA e jornalismo, pois este já vem se transformando e sobrevivendo às mudanças já faz algum tempo. Só não devemos perder de vista que as máquinas devem trabalhar para os humanos e não o contrário.